A Professora Maluquinha

Na nossa imaginação
Ela entrava na sala voando
Com estrelas no lugar do olhar
Ficava sempre nos olhando

Com jeito e canto de sereia
Nos encantava ao falar
Movendo seus cabelos
Nos levava pra lá e prá cá

“Professora Maluquinha”
Atendia por tal nome
Quando ela chega perto
A tristeza toda some
Nos conquistou tão depressa
Que as meninas choravam seu colo
Contavam seus segredos
Ligeirinho, logo, logo

Não é que ela soubesse tudo
Não, ela não sabia
Mas ela era craque
Em história e Geografia

Havia dias que ela chegava
Com um bico tal qual o de um tucano
Seus olhos perdidos no ar
Pareciam em pleno desengano

Quando isso acontecia
A turma parecia combinada
Ficava calada, quietinha
Fingindo estudar tabuada

Poucos dias depois
Sem muitas explicações a dá
Ela deixava seu ar de tristeza
E logo voltava a voar

A sala então ficava
Tal qual a primavera
A turma toda cantava e saldava
A nossa flor mais bela

Veio a morte de seu tio
O padre velho da cidade
Por ela muito querido
Sentiu-se órfã de verdade

O ano, como tudo na vida,
Estava chegando ao fim
Tivemos que ver sua partida
Que foi muito dolorida pra mim

Chegou o ano seguinte
E ela já não estava mais lá
Tudo era estranho pra gente
Só queríamos chorar

O ano se seguia
E voltamos a encontrar
A nossa “Maluquinha”
Aulas de reforço iria dar

Novamente a gente estava
Com ela a estudar
Nas aulas de reforço
Voltamos a gargalhar

Ela tinha um namoro
Que lhe era proibido
Sua mãe muito brava
Era sempre o seu castigo

Uma certa manhã
Sentimos algo a mudar
O doce estava azedo
Havia algo estranho no ar
A nossa professorinha
Havia dali fugido
Foi embora nossa “Maluquinha”
Com seu amor proibido

Muitos anos se passaram
E a muitos nos deixou
Mas uma coisa eu garanto
Esquecê-la, nuca vou.

                                                                           
Anselmo Santana

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